Witzel planeja vender ações ou fazer concessões de serviços da Cedae

RIO — O estado pretende finalizar o trâmite de venda da Cedae — ou de pelo menos parte da empresa — em outubro do ano que vem, apenas dois meses antes do prazo dado pela União para a quitação do empréstimo de R$ 2,9 bilhões obtido em 2017 por meio do Regime de Recuperação Fiscal. O governador Wilson Witzel disse nesta sexta-feira que há duas possibilidades de destino para a companhia: a abertura ao mercado de ações ou a concessão à iniciativa privada dos serviços de água e esgoto em algumas regiões.

—A Cedae tem que ser privatizada antes de 2020, quando vence o prazo atual do Plano de Recuperação Fiscal ( que está sendo renegociado ). Podemos vender a empresa em um leilão, como também fazer um IPO ( oferta pública inicial ) da companhia para torná-la cada vez mais competitiva, transparente e eficiente — disse Wilson Witzel em uma entrevista coletiva.

A declaração contradiz o discurso de campanha de Witzel e seu posicionamento nos primeiros dias de governo, quando afirmava ser contrário à privatização. Ele mudou o tom em meio ao cenário de crise financeira e à discussão, no Congresso Nacional, de um novo marco regulatório para o saneamento, que deve ampliar o interesse da iniciativa privada na prestação de serviços. Segundo estimativas do Palácio Guanabara, o novo marco regulatório elevaria o valor da Cedae para R$ 10 bilhões.

Foi essa possibilidade que levou Witzel a pedir ao BNDES, em junho, que refizesse os estudos sobre a venda. Contratado na gestão do ex-governador Luiz Fernando Pezão para traçar a modelagem de venda da Cedae, o BNDES não havia levado em consideração a votação do novo marco regulatório em Brasília.

Ao GLOBO, o governador explicou que, caso o estado opte por vender ações, manterá o controle majoritário da companhia, com 51% das ações. Por sua vez, a opção pela privatização não seria em sua integralidade. A ideia seria fazer concessões dos serviços de água e esgoto à iniciativa privada apenas em algumas regiões do estado. Na capital, por exemplo, parte dos serviços de esgoto já foi privatizada. Mas o modelo é diferente. A prefeitura fez a concessão do serviço na área conhecida como AP 5 (Zona Oeste, menos Barra, Recreio e Jacarepaguá), de modo que uma empresa privada fatura pelo tratamento de esgoto e paga à Cedae pelo fornecimento da água.

A ideia de Witzel de vender 49% das ações da Cedae, permanecendo com o controle acionário da companhia, é vista com reservas pelo economista Frederico Turolla, da empresa de consultoria Pezo Economics.

—Se isso acontecer, o estado não terá parceiros para o negócio. O investidor privado tem que assumir o controle da empresa para fazer a reestruturação necessária. A melhor alternativa seria privatizar — disse Turolla.

Já criticado pelo Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal por conta de um atraso de nove meses no cronograma, o governo estadual terá que correr para cumprir o prazo de venda da Cedae e conseguir pagar o que deve. O agravante é que muitas iniciativas não dependem do Palácio Guanabara. O próprio Witzel admite que precisa aguardar o Congresso aprovar o novo marco regulatório do saneamento, o que ainda não tem data para acontecer. A proposta que modifica as regras em vigor é do senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE ). Atualmente, o projeto tramita na Câmara dos Deputados e, caso sofra modificações, ainda terá que retornar ao Senado. A versão em debate na Câmara prevê que tanto empresas públicas como privadas possam participar das concorrências. Também é possível licitar operações de serviços de água e esgoto em blocos.

O relator do projeto na Comissão Especial de Saneamento, deputado Geninho Zuliani (SP), acredita que seu parecer será votado em 15 de outubro. A expectativa é que o plenário aprecie a matéria até o dia 31 do mês que vem. No Senado, a assessoria de Jereissati prefere não fazer previsões. Após a sanção presidencial, a Agência Nacional de Águas (ANA) ainda vai regulamentar detalhes da lei.

Há ainda outras questões a serem resolvidas nos próprios limites do estado. Desde o fim de 2018, quando passou a vigorar a lei que criou o Instituto Rio Metrópole , o planejamento de programas estratégicos depende de análise prévia das 22 prefeituras que integram a região, por serem atividades que podem afetar diretamente o dia a dia das cidades. Decisões, inclusive sobre a Cedae, são tomadas pelo governador (que preside o órgão) e representantes das prefeituras e da sociedade civil. O número de votos é proporcional à população das cidades.

Seja qual for o modelo, a privatização da Cedae é quase inevitável, como admitem fontes do Palácio Guanabara, porque, mesmo que Witzel consiga aprovar no Ministério da Economia as mudanças que deseja no Regime de Recuperação Fiscal, ainda terá dificuldades para equilibrar as contas. O estado precisa de cerca de R$ 4 bilhões (levando-se em conta juros acumulados) para honrar um empréstimo com o Banco BNP Paribas, firmado no fim de 2017. Na época, o governo colocou salários em dia e usou a Cedae como garantia de pagamento.

 

Witzel diz que modelo de privatização da Cedae deve ser anunciado até dezembro

Por Fernanda Rouvenat, G1 Rio

O governador Wilson Witzel afirmou, nesta segunda-feira (26), que o prazo de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgoto está garantido. De acordo com Witzel, a privatização de água e esgoto no Rio de Janeiro será um exemplo modelo para o país. O modelo de privatização da Cedae deve ser anunciado até dezembro deste ano.

“Além do do marco regulatório que está pra ser votado na Câmara dos Deputados, eu tive a notícia do presidente Rodrigo Maia, que deve ser feita a votação agora no fim de agosto ou início de setembro, do marco regulatório. O Rio de Janeiro vai ser modelo pro Brasil em termos de privatização de água e esgoto. Neste novo modelo, aumenta valor de venda da Cedae”, declarou o governador.

Witzel mostrou-se otimista quanto ao valor de venda da Cedae. Segundo ele, a verba seria suficiente para compensar déficit do estado – que deve ser em torno de R$ 11 bilhões para 2020. A expectativa do governador é que venda da empresa resulte entre R$ 7 e R$ 11 bilhões.

“A Cedae vai ser privatizada nessa parte de água e esgoto, e existe possibilidade de IPO, a venda de parte das ações da Cedae, que seria uma outra possibilidade porque o estado do Rio de Janeiro precisa alavancar recurso. Ao fazê-lo desta forma teremos condições de superar essas dificuldades”, completou.

Ações da companhia

Ainda de acordo com Witzel, também existe a possibilidade de privatizar as vendas de ações da Companhia.

“Além do marco regulatório que aumenta o valor de venda da Cedae as modificações que fizemos na gestão da Cedae também vai aumentar valor de venda. Conseguimos reduzir algumas despesas de valores elevados de salários e estamos reduzindo o passivo trabalhista que também aumenta o valor de venda da empresa. Estamos preparando a empresa para ter o maior valor de venda no mercado com essas novas modificações”, disse Witzel.

As declarações do governador foram dadas após uma reunião no Palácio Guanabara com alguns deputados federais do Rio de Janeiro. A conversa desta segunda-feira entre o governador e os deputados teve como objetivo definir a aplicação de recursos federais em áreas consideradas prioritárias para o governo, como saúde, segurança pública e educação.

“Pedi aos deputados que queiram direcionar recursos para o Segurança Presente, a fim de que nós possamos manter uma certa regularidade de investimentos no Segurança Presente, inclusive em outras cidades”, declarou o governador.

Apesar da afirmação, Witzel acrescentou que não há previsão para a chegada do programa aos municípios do interior do estado.

Apesar de prazo curto, estado pede nova modelagem para venda da Cedae

Paulo Cappelli

26/08/2019 – 04:30 / Atualizado em 26/08/2019 – 07:50

O Rio tem até setembro do ano que vem para privatizar a Cedae e pagar o empréstimo bilionário obtido no âmbito do Regime de Recuperação Fiscal com a União. Mas, a aproximadamente um ano para o fim do prazo, o Palácio Guanabara pediu ao BNDES que refaça o estudo técnico que norteia o modelo de desestatização da empresa. O relatório original começou a ser produzido em fevereiro de 2018 e, há dois meses, chegou às mãos do governador Wilson Witzel. Segundo fontes da administração estadual, o documento precisaria ser refeito porque não previa a possibilidade de aprovação no Congresso do Projeto de Lei do Saneamento Básico. Na avaliação de autoridades fluminenses, o novo marco regulatório para o setor, que continua em debate em Brasília, poderá valorizar a companhia de água e esgoto em bilhões de reais.

O tempo para que todo o processo transcorra, no entanto, é um obstáculo. Por um lado, o estado aguarda a votação do projeto de lei para vender a Cedae por um preço mais alto; por outro, precisa botar o pé no acelerador. Caso a desestatização não aconteça até setembro de 2020, a empresa passará automaticamente para as mãos do governo federal, credor do empréstimo de R$ 2,9 bilhões adquiridos pelo Rio em 2017, na transação com o banco francês BNP Paribas.

Trâmites demorados

Especialistas ouvidos pelo GLOBO veem com preocupação o pedido de remodelagem feito pelo estado frente ao prazo estipulado para a privatização. Segundo eles, há risco de a desestatização não ser concluída no período previsto.— Depois de lançado o edital, acredito que uma privatização desse porte levaria entre um e dois anos para ser finalizada. É uma operação muito complexa, porque envolve várias partes — avalia o advogado especialista em licitações Fabiano Diefenthaeler, do escritório N. Tomaz Braga & Schuch Advogados Associados.

— Numa empresa com o vulto da Cedae, muitos fatores têm que ser levados em consideração, como a realização de audiências públicas nos municípios afetados, já que estamos falando de um serviço público. Há ainda uma enorme probabilidade de interessados entrarem na Justiça para tentar impugnar o edital, o que pode retardar a licitação. Esse edital também terá de ser submetido ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), que precisará de algum tempo para emitir o parecer. Eu diria que o tempo médio seria de um ano — avalia.

Diretor e integrante do conselho do grupo Águas do Brasil, vencedor da concessão em Niterói, em 1999, Carlos Henrique da Cruz Lima lembra que, no município, foram necessários três anos entre o lançamento do edital de licitação e o início da operação pela empresa, por conta de imbróglios judiciais. Ele acredita que será preciso no mínimo um ano para, após a publicação do edital, a Cedae ser privatizada.

— Nunca houve uma privatização dessa envergadura no Brasil. A Cedae é uma das maiores empresas de saneamento do país. A Sabesp, de São Paulo, colocou ações na bolsa de valores, mas não chegou a ser privatizada — diz ele.

União não foi consultada

Procurado, o Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal, ligado ao Ministério da Economia, afirmou que não foi consultado sobre o pedido do governo estadual para que o BNDES refaça a modelagem que havia sido apresentada. Em maio, o conselho já tinha relatado um atraso de nove meses por parte do Palácio Guanabara no cronograma previsto para a licitação da Cedae.

O conselho acredita que uma nova modelagem “implicará alteração dos resultados já obtidos” e, portanto, “necessariamente ocorrerá um atraso além do mencionado”. A União lembrou que, caso o Palácio Guanabara não privatize a Cedae nem quite o empréstimo por outro meio, a empresa passará automaticamente para o governo federal, que efetuará o pagamento ao banco francês.

Secretário estadual de Fazenda, Luiz Claudio Rodrigues de Carvalho defende a cautela adotada pelo governo fluminense na privatização da Cedae.

— Não faz sentido avançarmos na privatização antes de o Projeto de Lei do Saneamento ser aprovado em Brasília. A simples indefinição do novo marco regulatório joga o valor da Cedae para baixo. O melhor é esperar — afirmou o secretário.

Apesar do atraso, o Palácio Guanabara afirmou que cumprirá os prazos estabelecidos no contrato. “O governo está refazendo a modelagem com o BNDES, para apresentar ao mercado o modelo de negócio da Cedae”, informou, por meio de nota.

Um primeiro projeto que cria o novo marco regulatório para o saneamento básico foi aprovado em junho pelo Senado e seguiu para a Câmara dos Deputados. Antes de o texto ser analisado pela Casa, no entanto, uma outra proposta sobre o mesmo assunto foi enviada ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro, no começo deste mês. O projeto do Executivo federal, que ajudaria a turbinar o valor da Cedae, prevê que empresas privadas também possam participar de licitações para prestar serviço de saneamento básico a prefeituras. Atualmente, municípios precisam fechar contrato com companhias estaduais públicas. Concessões do serviço para empresas privadas, como em Niterói, só puderam ser firmadas antes do atual marco regulatório, estabelecido em 2007.

Um problema para o governo Witzel é que, embora o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seja favorável à medida, ainda não há previsão de data para que o novo marco do saneamento seja votado. Na última quarta-feira, a Casa instalou uma comissão especial para analisar as propostas. O relatório ainda será votado internamente, na própria comissão, antes de ser submetido ao plenário da Câmara. Dependendo do que a Casa decidir, o texto terá que ser submetido mais uma vez ao Senado.

Projetos estratégicos para Governo do Estado ainda dependem de aprovação de conselho consultivo

 

 A privatização da Cedae, a licitação dos ônibus intermunicipais, novos investimentos para despoluir a Baía de Guanabara e programas habitacionais para população de baixa renda estão entre os projetos estratégicos do governo do estado. No entanto, a forma com que esses projetos serão implantados segue em compasso de espera. Desde o fim de 2018, quando entrou em vigor a lei que criou o Instituto Rio Metrópole, o planejamento de programas estratégicos depende de análise prévia das 22 prefeituras que integram a região, já que são programas que podem afetar diretamente o dia-a-dia dessas cidades. Ou seja, no caso do estado realmente tentar privatizar a Cedae, as regras teriam que ser analisadas também pelos municípios. Mas o conselho deliberativo, formado pelo governador Wilson Witzel  e os prefeitos só se reuniu uma única vez para discutir a base jurídica da instituição. Esses temas só começarão a ser tratados em uma reunião prevista para setembro.

 Mais cedo, O GLOBO publicou que o conselho jamais havia se reunido. No início da tarde, o Palácio Guanabara divulgou uma nota na qual esclareceu que, no dia 27 de fevereiro, houve uma reunião de instalação do conselho no Centro de Comando e Controle, na Cidade Nova. Nesse encontro, ficou determinada a elaboração da base legal da entidade, que ainda terá que ser aprovada pelo Conselho Delberativo. Esses documentos deverão ser referendados em uma reunião no dia 18 de setembro. Nesse dia, também haverá discussão com os prefeitos sobre mobilidade urbana, saneamento e habitação.

Pelas regras do Instituto Rio Metrópole, as decisões sobre investimentos e políticas públicas que atingem mais de uma cidade da região em áreas como infraestrutura, saúde e saneamento são tomadas por um órgão deliberativo e têm que passar pelo governador (que preside o órgão) e os 22 prefeitos. Ao todo, são 49 conselheiros, mas para as deliberações, as decisões seguem um critério misto. O número de votos é proporcional à população de cada cidade, e a sociedade civil também tem três assentos. A maior influência é exercida pelo governo do Estado (25% dos votos) e a capital (15%). As medidas só serão aprovadas com 60% dos votos e o apoio de metade dos conselheiros contados individualmente. A previsão é que a entidade se reúna pelo menos uma vez por semestre.

Em meio a esse processo, há ainda um componente de insegurança jurídica. Após não conseguir levar a frente o projeto de fazer uma concessão da implantação de redes de esgotos na chamada AP-4 (Barra, Recreio e Jacarepaguá) justamente porque a questão deveria ser analisada de forma integrada, o prefeito Marcelo Crivella entrou em maio com uma ação de inconstitucionalidade contra Lei Complementar 184/2018, que criou o Instituto Rio Metrópole. Na ação, o prefeito questiona a ingerência do estado sobre questões da capital. O processo ainda não tem prazo para ser julgado pelo Órgão Especial.

A capital tem mais pendências. Uma das mais urgentes é definir o futuro do corredor de BRT Transbrasil, que vai ligar Deodoro ao Centro. Só que o Instituto Rio Metrópole tem que deliberar sobre eventual reorganização das linhas intermunicipais que chegam ao Rio. Sem que seja batido o martelo, por exemplo, as linhas da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo que vão continuar a operar no Terminal Américo Fontenelle (Central do Brasil) impedem que o Sindicato das Empresas de ônibus do Rio (Rio Ônibus) dimensione e compre coletivos articulados para operar a frota. Uma das consequências desse atraso é que a prefeitura decidiu iniciar a operação do corredor de BRT (que custou R$ 1,4 bilhão em obras que já duram cinco anos) como um corredor de BRS. Mesmo sem definição, no dia 1º de agosto, o município assinou um aditivo de R$ 255,7 milhões para construir dois terminais de integração nos trevos das Margaridas e das Missões.

— As questões que precisam ser debatidas envolvem todas as prefeituras da região metropolitana. Sem essa discussão, programas importantes não podem ser levados adiante — diz o coordenador-executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, que preside um conselho de caráter consultivo da entidade, formado por representantes da Sociedade Civil.

O secretário de governo, Claiton Rodrigues, diz que as discussões do conselho vão começar em breve com a participação dos prefeitos:

— Isso não vai prejudicar o andamento dos projetos. Não há atraso. O prazo é razoável. O problema é que encontramos o estado em uma situação difícil, que exigiu reestruturações administrativas.

 O deputado Waldeck Carneiro (PT), que preside uma comissão especial que acompanha o processo, lamenta a indefinição:

— Essa situação é ruim para a definição de políticas públicas. Se o governo do estado quer fazer a concessão da Cedae, vai ter que discutir com os municípios primeiro, por exemplo. Na mesma situação, estão estratégias para sanear a Baixada  — disse Waldeck.

O prefeito de Caxias, Washington Reis (MDB) observa que a legislação estabelece restrições de despesas para o último ano de governo, o que pode vir a ser um problema. A lei que regulamentou a criação do conselho prevê, por exemplo, que os municípios podem ratear despesas para a execução de projetos considerados prioritários no conselho.

— Vamos supor que alguma deliberação exija despesas de longo prazo dos municípios. A implantação dos programas vai exigir que o prefeito tenha recursos em caixa para o sucessor. Isso pode ser um problema, porque as prefeituras ainda enfrentam dificuldades financeiras por causa da crise econômica — disse Washington Reis.

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT) também tem pendências. Uma delas é justamente com o BRT Transbrasil, que pode exigir mudanças nos itinerários das linhas que vêm da cidade em direção ao Rio.

— Diferente de estados como Minas e São Paulo, o Rio tem cerca de 70% de sua população vivendo na região metropolitana. Mas a cidade não é uma ilha. O desafio é viabilizar uma governança compartilhada para superar problemas históricos, como por exemplo, a poluição da Baía de Guanabara e a mobilidade urbana — disse Neves.

Hoje, nem mesmo o site da Câmara Metropolitana (que antecedeu o formato atual), criado quando as discussões sobre a entidade começaram na Alerj em 2015, é atualizado. Na última notícia que consta na página, a informação se refere a uma reunião com o ex-governador Francisco Dornelles. A informação sobre a composição do órgão ainda são de 2018.

Procurada desde sábado, a prefeitura do Rio não se manifestou.

 

 

 

Witzel agora diz ser obcecado por privatizar

Estadão Conteúdo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o “choque de energia barata” buscado pelo governo, que pretende reduzir o preço das tarifas residenciais e empresariais, tem capacidade para promover uma reindustrialização do Brasil.

“A energia barata pode permitir reindustrializar o País. Podemos conseguir mais 10% de PIB, Produto Interno Bruto, industrial ao final de dez anos”, discursou Guedes para empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). “A própria Vale falou que se cair o preço da tarifa eu compro 30 anos de energia”, comentou.

Witzel defende privatização

Presente ao evento, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, complementou a defesa de Guedes sobre redução de tarifas e privatizações.

“Sou obcecado por energia barata, sou um dos maiores obcecados por privatizar”, afirmou o governador, dizendo que avançará com a privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) assim que for concluída a mudança no marco regulatório do setor.

Queda no preço do gás

Segundo o ministro, um estudo feito pelo economista Carlos Langoni – diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas e conselheiro informal de Guedes – aponta que o preço do gás pode cair em 40% em dois anos.

Guedes comemorou algumas boas notícias dos primeiros sete meses de governo, como avanços em negociações internacionais e acerca da cessão onerosa, além da queda nos juros, medidas em prol da competitividade e liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Ao contrário de Temer, que soltou só contas inativas, estamos soltando também as ativas”, ponderou Guedes. “A gente não quer atingir a construção civil. Calculamos o limite de saque exatamente para não pegar a construção civil”, completou.

Empresa amada por todos

Por CÁSSIO BRUNO

 

O governo Wilson Witzel mantém prestadores de serviços bem conhecidos dos antecessores Sergio Cabral e Pezão. Um deles é a Investiplan, de equipamentos de informática, cujo dono é Paulo Trindade, amigo do ex-deputado Jorge Picciani.

CEDAE PAGA MAIS DE MEIO MILHÃO 

Ontem, por exemplo, a Cedae publicou o pagamento à Investiplan de R$ 663,1 mil, que atendeu a companhia nos últimos seis meses. Detalhe: sem contrato formal, conforme foi informado no Diário Oficial.

Presidente da Alerj quer substituir Cedae por royalties do petróleo como garantia no regime de recuperação

Paulo Cappelli

03/07/2019 – 08:30 / Atualizado em 03/07/2019 – 13:39

RIO – O presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), quer retirar a Cedae do regime de recuperação fiscal celebrado entre estado e União. Para tentar evitar a privatização da empresa, o deputado incluirá na pauta da Alerj um projeto para que parte dos royalties do petróleo seja usada para pagar o empréstimo de R$ 2,9 bilhões obtido pelo Palácio Guanabara com o Banco BNP Paribas. Na transição chancelada pelo BNDES em 2017, as ações da Cedae foram colocadas como garantia para quitar a dívida.

— A lei que estamos preparando permite antecipar os royalties do petróleo no ano que vem para que o Rio quite esse empréstimo. A Cedae está dando mais de R$ 800 milhões de lucro por ano e, por isso, é bom que preservemos essa empresa para o estado — disse Ceciliano.

A declaração do presidente da Alerj ocorre cinco dias após o governador Wilson Wltzel (PSC) afirmar que pode acionar a Justiça para rever termos do acordo de recuperação fiscal, caso o governo federal não ceda em alguns pontos.

 — Eu sou apoio do governo (de Jair Bolsonaro). Mas, para ser apoio, tem que ser apoiado. Então, a recuperação fiscal, veja, é algo que nós apresentamos de forma estruturada, consistente. Nós apresentamos uma proposta que é razoável, vamos sentar para discutir — afirmou Witzel, durante agenda para apresentar medidas tomadas ao longo dos seus primeiros 180 dias à frente do Palácio Guanabara. 

Para André Ceciliano, a substituição da Cedae pelos royalties de petróleo não fere o regime de recuperação fiscal com a União. 

 —  Haverá dinheiro para quitar o empréstimo. Os royalties têm subido de forma muito consistente. De janeiro a maio deste ano, já se arrecadou mais que o dobro no mesmo período de 2018. Vale lembrar que o estado, com o apoio da Alerj, já fez um ajuste duro. Aumentou a contribuição previdenciária, aumentou o ICMS, autorizamos as alienações da Cedae.

Indagado sobre se a manobra para retirar a Cedae do acordo é apoiada por Witzel, Ceciliano, que tem uma relação próxima com o governador, respondeu:  — Eu falei dessa ideia com ele em uma reunião. Não sei se ele notou. Até acho que sim. Mas essa iniciativa não está combinada com o governo. É de minha autoria e deverá ser levada ao plenário da Alerj em setembro, depois de receber os pareceres das comissões da Casa.

Após eleição, cabo eleitoral de Wilson Witzel passa a trabalhar na Cedae

Nas redes sociais, Marcos Rodrigues de Castro postou diversas fotos com o governador, durante a campanha. A empresa alega que ele integra os quadros de uma terceirizada que presta serviço para a estatal

Por Maria Luisa de Melo

Publicado às 06h00 de 28/06/2019

A crise da nova gestão da Cedae, sob a batuta do presidente Hélio Cabral, ganhou um novo capítulo. Depois das demissões de 54 funcionários, em março, prestadores de serviço denunciam a entrada de cabos eleitorais de Wilson Witzel para compor a equipe administrativa, através de empresas terceirizadas. É o caso de Marcos Rodrigues de Castro. O morador de Duque de Caxias suou a camisa durante a campanha, no ano passado. Bandeirou e abordou eleitores em agendas por todo o estado, incluindo as populosas praças da Central do Brasil e da Feira de São Cristóvão. Depois, foi empregado no terceiro andar do prédio-sede da empresa, na Avenida Presidente Vargas. No Facebook de Marcos não faltam fotos com o governador. Marcos transmitia a agenda de campanha de Witzel quase em tempo real. Nas imagens, aparece coladinho e orgulhoso também ao lado da hoje primeira-dama do estado, Helena Witzel. Procurada, a Cedae alegou apenas que Marcos de Castro cumpre suas funções como funcionário de uma terceirizada.

HÉLIO CABRAL NÃO PRESTA INFORMAÇÕES

Depois das 54 demissões em março (a maior parte de engenheiros com 40 anos de carreira na estatal), a Alerj realizou uma audiência pública. Na ocasião, contam deputados, o presidente da empresa, Hélio Cabral, se comprometeu a prestar informações sobre o impacto das dispensas. Mas, até agora, nada! Ontem, em plenário, o presidente da Comissão de Saneamento, Gustavo Schmidt (PSL) cobrou. “Passados 60 dias, não protocolou e já vai pedir mais 60”, disse. A empresa alega que “responderá dentro do prazo”. 

 

 

Com crise e mudança no marco legal, Witzel já pensa em privatizar Cedae

Ao longo da campanha eleitoral em 2018, o então candidato ao governo do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) repetiu insistentemente que não estava nos planos privatizar a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), mas agora, eleito, o ex-juiz federal vem repetindo insistentemente que pretende vender integralmente a estatal. Por detrás da mudança de posição está, em grande parte, uma pressão financeira crescente, mas também a perspectiva de uma flexibilização no marco regulatório do saneamento básico com potencial para alavancar o valor de mercado da estatal.

Em relatório com data de segunda-feira passada, o Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal – formado por representantes do Ministério da Economia, do Tribunal de Contas da União e do próprio Estado – classifica como “insatisfatória” a condução do processo que visa a privatização da Cedae. A venda da estatal à iniciativa privada foi uma das condições impostas pela União para viabilizar o socorro financeiro ao Estado do Rio, dentro do Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

O relatório do conselho de supervisão aponta “atraso de pelo menos nove meses” no cronograma de execução do contrato entre o governo do Estado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o consórcio responsável pela modelagem do processo de desestatização da Cedae. O governo federal tem interesse especial na venda da companhia por ser garantidor final de um empréstimo de R$ 2,9 bilhões concedido pelo banco BNP Paribas em 2017 ao Estado do Rio.

Caso o governo fluminense não quite o financiamento, com vencimento em dezembro de 2020, a União teria direito a até 50% das ações da Cedae. Uma forma de evitar a alienação dos papéis seria o Tesouro estadual quitar o empréstimo, cujo valor chegaria a R$ 4 bilhões com a inclusão de juros e encargos.

“No momento, não dá para ele [Witzel] dizer nada diferente de que vai vender”, resume uma fonte que acompanha o desenrolar do processo, referindo-se ao compromisso representado pelo Regime de Recuperação Fiscal.

Com receita operacional bruta de R$ 5,62 bilhões e lucro líquido de R$ 832,3 milhões em 2018, a Cedae poderia render até R$ 30 bilhões ao governo fluminense no caso de uma mudança regulatória que possibilite às empresas privadas prestarem serviços de saneamento básico por meio de contrato de concessão, estima fonte próxima ao governo estadual, reconhecendo que a projeção é “extremamente otimista.”

A cifra parece pouco factível quando comparada ao valor de mercado da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na casa de R$ 32 bilhões. A companhia paulista atende 366 municípios e fechou o ano passado com um lucro líquido de R$ 2,83 bilhões.

Em 6 de junho, o Senado aprovou em regime de urgência um projeto de lei que, entre outros itens, prevê a realização de licitações em blocos de municípios para prestação de serviços de saneamento básico. Ao permitir a junção num mesmo bloco de cidades mais e menos rentáveis, a nova regulação geraria ganhos de escala e ampliaria a viabilidade técnica e econômica do saneamento como negócio no país, explica Sebastián Butto, sócio-diretor da consultoria em regulação Siglasul.

A possibilidade de empresas privadas prestarem serviços de saneamento por meio de contrato de concessão pode, em tese, alavancar o valor de venda da Cedae e de outras estatais do segmento, reconhece Butto. Ainda na administração de Luiz Fernando Pezão, antecessor de Witzel, o Estado defendia um modelo que subconcessões em que a Cedae ficaria com todo o serviço de distribuição de água e a captação e tratamento de esgoto ficaria a cargo de outras empresas. O governo fluminense acabou tendo de abrir mão dessa alternativa para assinar o RRF.

Por meio de sua assessoria, o BNDES informou que apresentou ao governo fluminense em dezembro de 2018 a primeira fase da modelagem do processo de desestatização da Cedae. Falta ainda a conclusão de uma segunda etapa.

 

 

Witzel diz que está ‘estancando sangria’ do Rio

Por Estadão Conteúdo
27/05/19 – 01h07

 

O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou que o Estado tem “todas as possibilidades” para superar sua crise fiscal. Em entrevista à Band transmitida nesta segunda-feira, 27, Witzel disse que a expectativa positiva em relação à produção do pré-sal “tem se concretizado” e estimou que os royalties do petróleo devem atingir R$ 20 bilhões neste ano, “o que deixa o Estado num conforto”.

Por isso, disse o governador, o Estado deve começar a descontingenciar recursos do orçamento a partir do segundo semestre para realizar investimentos em áreas como saúde, agricultura, educação e “especialmente nas polícias”.

“O Rio de Janeiro estava, realmente, em estado terminal. Hoje, nós estancamos essa sangria com controle de gastos, com planejamento de gastos do dinheiro público. Nós estamos evoluindo. Sem contratar um policial, melhoramos a qualidade do policiamento”, avaliou.

Na entrevista, o governador também criticou o modelo de regime de recuperação fiscal do Estado, que estabelece a suspensão do pagamento de juros das dívidas e exige a alienação da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). “Não é um modelo bom, é preciso haver replanejamento do pagamento da dívida”, afirmou.

Witzel declarou ainda que é “absolutamente favorável” à reforma da Previdência, mas foi taxativo ao defender que o governo precisa atuar em outras frentes para destravar o crescimento econômico e permitir maior geração de renda e emprego no País. “Temos que ampliar o debate, agir em outros mecanismos econômicos”, frisou, citando como exemplo a mudança do pacto federativo.