Witzel agora diz ser obcecado por privatizar

Estadão Conteúdo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o “choque de energia barata” buscado pelo governo, que pretende reduzir o preço das tarifas residenciais e empresariais, tem capacidade para promover uma reindustrialização do Brasil.

“A energia barata pode permitir reindustrializar o País. Podemos conseguir mais 10% de PIB, Produto Interno Bruto, industrial ao final de dez anos”, discursou Guedes para empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). “A própria Vale falou que se cair o preço da tarifa eu compro 30 anos de energia”, comentou.

Witzel defende privatização

Presente ao evento, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, complementou a defesa de Guedes sobre redução de tarifas e privatizações.

“Sou obcecado por energia barata, sou um dos maiores obcecados por privatizar”, afirmou o governador, dizendo que avançará com a privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) assim que for concluída a mudança no marco regulatório do setor.

Queda no preço do gás

Segundo o ministro, um estudo feito pelo economista Carlos Langoni – diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas e conselheiro informal de Guedes – aponta que o preço do gás pode cair em 40% em dois anos.

Guedes comemorou algumas boas notícias dos primeiros sete meses de governo, como avanços em negociações internacionais e acerca da cessão onerosa, além da queda nos juros, medidas em prol da competitividade e liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Ao contrário de Temer, que soltou só contas inativas, estamos soltando também as ativas”, ponderou Guedes. “A gente não quer atingir a construção civil. Calculamos o limite de saque exatamente para não pegar a construção civil”, completou.

Moradores de Macaé, RJ, aprovam tarifa zero de água e passagem a R$ 1

Por G1 — Região dos Lagos

A população de Macaé, no interior do Rio, aprovou neste domingo (28) a municipalização dos serviços de abastecimento e transporte público, com a tarifa zero de água e a passagem a R$ 1. A decisão foi tomada por meio de uma consulta pública. No total, 1.381 macaenses votaram e participaram da ação, de acordo com a Prefeitura.

A votação foi manual e foi realizada em 42 seções, das 8h e 17h. O processo seguiu as regras do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e foi acompanhado pelo Juiz Sandro de Araújo Lontra, responsável pela 3ª Vara Cível e pela 109ª Zona Eleitoral da cidade.

De acordo com a Prefeitura, 85% da população são favoráveis à municipalização da água e 90% dos moradores aprovam a integração do VLT no transporte público.

Sobre a municipalização da água, 1.110 pessoas votaram a favor e 186 contra; em relação à tarifa zero de água, 1.134 moradores foram a favor e 204 contra; sobre a passagem a R$ 1, 1.230 pessoas votaram a favor e 99 contra; em relação à integração do VLT, 1.182 moradores foram a favor e 129 contra.

Segundo a Prefeitura, estavam aptos para participar da consulta todos os 159.014 eleitores registrados na cidade. O número foi consolidado pelo Tribunal Regional Eleitoral (junho/2019).

Ainda de acordo com a Prefeitura, três dos quatro pontos aprovados pela população já são cumpridos na cidade, com exceção da integração do VLT, que que só irá depender de uma nova licitação e edital para a concessão do transporte público.

Nota Cedae

Procurada sobre o assunto, a Cedae, concessionária de água que atendia a cidade antes da municipalização, disse que dos processos judiciais em curso, foram deferidas liminares que suspenderam os efeitos de quaisquer atos normativos editados pelos Poderes Executivo e Legislativo Municipais que tenham por objetivo a retomada da concessão.

A Cedae disse ainda que a consulta pública realizada no último domingo (28) revela descumprimento das citadas decisões judiciais.

A empresa ressaltou ainda que a cidade tem cerca de 160 mil eleitores e pouco mais de mil eleitores participaram da consulta pública. De acordo com a Cedae, o resultado da consulta levada em consideração pelo município não pode ser considerada representativa da vontade popular.

Em entrevista ao RJ1 desta segunda-feira (29), o prefeito Aluízio Junior (MDB) disse que não houve qualquer descumprimento.

Falhas no serviço expõem a concessionária Cedae

Por Jonas Feliciano – 19/07/2019 – 15h30

Desde o último sábado (14), um vazamento de água preocupava os moradores da Rua Canavieiras, no bairro do Grajaú, na Zona Norte do Rio. Na verdade, o problema ocorria em dois pontos próximos de uma mesma calçada. Até a chegada dos técnicos nesta quarta-feira (17), foram cinco dias para que a empresa aparecesse no local. Entretanto, de acordo com os residentes, o contato já havia sido realizado desde a constatação do problema, e a concessionária teria dado um prazo de 48 horas para a resolução. O período não foi cumprido.

A demora no atendimento gerou o desperdício de uma grande quantidade de água. Assim como, revela a falha no serviço não apenas no bairro, mas em diversos outros pontos da capital. Em vários grupos de bairro no Facebook, usuários apontam problemas semelhantes. Na plataforma Reclame Aqui, nos últimos seis meses, a Cedae já possui um total 1.445 reclamações. Segundo os consumidores, a concessionária também possui uma avaliação ruim.

Nice Carvalho é a presidente da Associação de Moradores do Grajaú. Ela comentou sobre o assunto.

“A Cedae sempre sinaliza alguns indicadores de economia para os seus usuários como manter torneiras fechadas, cuidar de vazamentos, usar a descarga conscientemente. Em contrapartida, nosso bairro nunca sofreu tanto com descompromisso de uma companhia. Vazamentos de água limpa brotam pelas ruas do Grajaú. São verdadeiros rios. Como educar a população, se não respeitam o direito dos moradores? O maior absurdo é a cratera da Rua Comendador Martinelli, onde a Cedae não consegue nem ao menos se afinar com a Prefeitura em um cronograma resolutivo”, lamentou Nice.

Rua Canavieiras  / Imagem: Jonas Feliciano 

Vale destacar que as críticas ao serviço da empresa vão além da quantidade de vazamentos espalhados pelo município. Outras falhas como falta de água e cobrança indevida também estão na lista de reclamações. No primeiro semestre deste ano, a concessionária já tem registrado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), 148 processos em 1° instância, 300 reclamações nos Juizados Especiais, oito em Fazenda Pública e mais 11 ações promovidas pelo Ministério Público no âmbito criminal.

Desperdício comprovado

Imagem: Jonas Feliciano 


No último painel de saneamento do Instituto Trata Brasil, que foi realizado em 2017, a cidade do Rio de Janeiro consumiu 660.085 metros cúbicos de água. Esse valor revela que, naquele ano, cada pessoa usou 283 litros diários. Além disso, cerca de 5.824.344 pessoas da população total da capital fluminense tinha acesso à água, ou seja, 91,1% dos habitantes. Ainda segundo o mesmo estudo, 32,8% do que foi fornecido acabou sendo desperdiçado. Tais perdas estão relacionadas principalmente com as falhas no abastecimento como, por exemplo, os vazamento nas ruas.

Em junho de 2019, o Trata Brasil revelou que o desperdício de água potável no país seria suficiente para abastecer 30% da população brasileira por um ano. Neste novo estudo, o Instituto mostrou que vazamentos, furtos, erros de leitura do hidrômetro e outros problemas causaram um prejuízo acima de R$ 11 bilhões, em 2017.

O que diz a Cedae

Diante dos dados, a reportagem do Portal Eu,Rio! procurou a CEDAE para tentar esclarecer os motivos que podem dificultar o cumprimento dos prazos estabelecidos inicialmente na resolução de problemas, bem como se a concessionária realiza algum tipo de programação em relação as suas responsabilidades ambientais.

Em nota, a empresa informou que a atual gestão da companhia está atuando e tomando medidas para garantir a melhoria dos serviços prestados para a população. Para isso, notificou, multou e afastou a empresa de manutenção contratada em 2018 que não estava atuando de forma satisfatória.

Ainda segundo a Cedae, desde junho, mais de 500 homens atuam em diversas frentes para resolver o passivo acumulado. A meta é realizar o atendimento de demandas em menos de 48 horas ainda em 2019.

Privatização do saneamento já se mostrou inadequada em muitos países, diz relator da ONU

Segundo estudo citado pelo relator das Nações Unidas para água e saneamento, o brasileiro Leo Heller, nos últimos 15 anos houve ao menos 180 casos de reestatização do fornecimento de água e esgoto em 35 países, em cidades como Paris (França), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapeste (Hungria), La Paz (Bolívia) e Maputo (Moçambique).

As quebras ou não renovações dos contratos ocorreram por falhas das empresas em atingir metas de universalização, além de problemas com transparência e dificuldade de monitoramento do serviço pelo setor público.

O Brasil tem 40% de sua população sem acesso adequado à água e 60% sem acesso a esgotamento sanitário. Apesar da evolução nas últimas décadas, o quadro permanece preocupante e, para solucioná-lo, são necessários mais investimentos públicos continuados, enquanto a privatização desses serviços já se mostrou inadequada em diversos países, disse o relator especial das Nações Unidas sobre o tema, o brasileiro Leo Heller.

“A empresa privada não investe o suficiente e adota política de exclusão de populações mais pobres, impondo tarifas mais altas. Além disso, não atingem as metas dos contratos”, declarou Heller, lembrando que o próprio Banco Mundial, antes defensor das privatizações no saneamento, já reconheceu que as privatizações não são uma “panaceia para todos os problemas”.

As declarações de Heller têm como base estudo de 2014 que mostrou tendência global de reestastização desses serviços. Segundo o relatório, nos últimos 15 anos houve ao menos 180 casos de remunicipalização do fornecimento de água e esgoto em 35 países, em cidades como Paris (França), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapeste (Hungria), La Paz (Bolívia) e Maputo (Moçambique). Desse total, houve 136 casos em países de alta renda e 44 casos em países de baixa e média renda.

No mesmo período, houve um menor número de privatizações, solução adotada por Nagpur (Índia), onde a iniciativa passou por forte oposição e crítica, e Jeddah (Arábia Saudita).

O estudo, elaborado pela Unidade Internacional de Pesquisa de Serviços Públicos (PSIRU), Instituto Transnacional (TNI) e Observatório Multinacional, apontou ainda que as iniciativas de reestatização ocorreram como resposta às falsas promessas dos operadores privados e sua incapacidade de priorizar o atendimento às comunidades em detrimento do lucro, além de falta de transparência e dificuldade de monitoramento de suas atividades pelo poder público.

“Experiência direta com problemas comuns da administração privada da água — da falta de investimentos em infraestrutura, a aumentos tarifários a riscos ao meio ambiente — convenceu comunidades e autoridades de que o setor público está mais bem posicionado para fornecer serviços de qualidade a cidadãos e promover o direito humano à água”, disse o relatório das organizações.

Heller lembrou que recentemente, no Brasil, o discurso da privatização do saneamento básico voltou à tona. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou em junho que pretende ajudar o governo do estado do Rio de Janeiro a privatizar empresas, como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE).

“O que podemos observar é um discurso forte no sentido de privatização do sistema, como grande saída para resolver o problema”, disse. “Mas não é essa a lição de experiências de privatização em outras partes do mundo. Por trás desse discurso poderíamos ler uma tentativa de afastamento do Estado em sua obrigação de oferecer saneamento”, declarou.

Avanços nos investimentos em saneamento

De acordo com o relator da ONU, houve avanços na cobertura da população atendida no Brasil por serviços de água e esgoto especialmente a partir de 2003, acompanhados de um aumento histórico do aporte de recursos financeiros do setor.

Segundo dados do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLABSAB), enquanto em 2003 foram desembolsados 1,07 bilhão de reais para saneamento em recursos não onerosos — que vêm do Orçamento da União —, esse número chegou a 3,99 bilhões em 2011.

“A política de saneamento precisa de mais continuidade (do que outras políticas públicas), requer um ciclo longo de investimentos. Quando há descontinuidade, isso é fatal”, disse Heller. “Essa é uma preocupação atual. É necessário saber em que medida o ajuste fiscal não comprometerá o que foi feito nos últimos anos”, completou.

O relator destacou como um dos avanços dos últimos anos a aprovação da Lei Nacional do Saneamento Básico, de 2007, que estabeleceu regras para a prestação de serviços e impôs a necessidade de regulação do sistema, o que acabou dando origem a diversas agências reguladoras estaduais.

“Houve certo avanço na cobertura da população. Mas tem havido a meu ver muita dificuldade de ver como o governo federal decide a aplicação de seus recursos”, disse. “O planejamento pode ser a solução, mas ainda está engatinhando”, salientou.

Dados do PLABSAB de 2010 apontam que 59,4% da população brasileira tem acesso adequado a abastecimento de água, 39,7% têm atendimento adequado a esgotamento sanitário e 58,6% têm acesso adequado a manejo de resíduos sólidos.

A maior parte da população atendida está na região Sudeste, enquanto Nordeste e Norte são as regiões mais afetadas por paralisações ou interrupções no abastecimento de água. A região Nordeste também registra o maior déficit no serviço de esgoto sanitário (30%).

“O Brasil ainda está distante dos países desenvolvidos. Mas está em situação similar aos latino-americanos, parte dos asiáticos, e ao norte da África”, afirmou o relator.

“Quando observamos os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), o Brasil aparece bem, tendo cumprido metas para água e esgoto”, explicou. “Mas a meta era pouco ambiciosa. O país a cumpriu, mas deixou grande parte da população sem acesso. A meta não previa a universalização, mas a redução pela metade do déficit.”

Segundo Heller, o direito humano à água obedece cinco princípios: disponibilidade, acessibilidade física, aceitabilidade, acessibilidade financeira e qualidade. Ele disse acreditar que esses pontos estão sendo considerados no monitoramento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda global que ocupou o lugar dos ODM.

“Tenho acompanhado discussões com OMS (Organização Mundial da Saúde) e UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), tem havido preocupação em refletir os conceitos dos direitos humanos. A declaração dos ODS fala nitidamente (desses princípios) e as metas sugerem esses conteúdos”, afirmou, completando que, diferentemente dos ODM, os ODS consideram dados desagregados, ou seja, informações regionais de acesso por classe, etnia, entre outros, não apenas médias nacionais.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) preveem que os países alcancem, até 2030, acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos, assim como acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, além de propor o fim da defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.

Saneamento no combate ao zika

Heller lembrou que há um forte vínculo entre sistemas de saneamento deficientes e o surto atual do vírus zika, bem como a dengue, a febre amarela e o chikungunya, sendo todos eles transmitidos por mosquitos.

O relator divulgou recentemente comunicado sobre o tema junto com outros especialistas das Nações Unidas. O grupo alertou na ocasião que 100 milhões de pessoas na América Latina não têm acesso a saneamento básico e outras 70 milhões a água encanada.

“Várias ações de saneamento têm influência grande nos criadouros dos mosquitos. Se há fornecimento intermitente de água ou falta d’água, as pessoas passam a armazenar. Quando não tem esgoto, há empoçamento de água. Quando não há coleta de lixo, há sempre criadouro preferencial do mosquito. E quando não há drenagem, a água de chuva é criadouro”, declarou.

“A ação de saneamento seria eficiente e efetiva na eliminação de criadouros. E seria uma solução permanente, já que as iniciativas de combate ao vetor têm curta duração”, lembrou. “O saneamento não só combate essa epidemia, mas também outras doenças como diarreia.”

Os relatores especiais fazem parte do Procedimentos Especiais, maior órgão de peritos independentes no sistema de direitos humanos das Nações Unidas. Os especialistas trabalham numa base voluntária; não são funcionários da ONU e não recebem um salário pelo seu trabalho. São independentes de qualquer governo ou organização e prestam serviços em sua individualidade.

 

Eta Guandu sem engenheiro

Por CÁSSIO BRUNO

 

O presidente da Cedae, Helio Cabral, exonerou mais de 50 funcionários. E criou um embaraço na Estação de Tratamento de Água do Guandu. Demitiu Octávio Legg Neto, o único engenheiro mecânico da estação que abastece todo o Grande Rio.

Vizinhos do desperdício: na Baixada sobram vazamentos e falta água

Cíntia Cruz

17/06/2019

 

Litros de água são desperdiçados. Essa é a realidade em pelo menos quatro das maiores cidades da Baixada Fluminense. E, no bairro Vila Rosali, em São João de Meriti, o vazamento chega a afetar a rede de abastecimento e dezenas de famílias estão com as torneiras secas. Resultado: como o problema não é resolvido, moradores pegam água no própio local do vazamento.

É o que tem feito o ajudante de refrigeração Anderson Marinho, de 43 anos. Com garrafas e baldes, ele se dirige ao vazamento no cruzamento da Rua Dr. Mário Cabral com a Avenida Fluminense.

— Da Avenida Fluminense para cima, os moradores da Mário Cabral estão sem água há um mês. Não tem nem para cozinhar. A gente está pegando aqui — conta Anderson.

No local, segundo moradores, uma válvula quebrou e a Cedae não trocou a peça. Como um buraco fica aberto, algumas crianças chegam a se banhar no local.

— As pessoas podem até ser atropeladas. Essa água acaba se misturando com água de chuva. Ela não está pura. Eu tenho hidrômetro, pago conta e ainda tenho que pagar R$ 400 por um caminhão-pipa? — questiona, indignado, o aposentado Almir Marinho de Oliveira, de 66 anos.

No bairro Caonze, em Nova Iguaçu, um vazamento de um mês também virou motivo de preocupação para os moradores da Rua Padre Dinart Passos. Sem resposta da Cedae, um deles chegou a tentar resolver o problema por conta própria.

— Ligamos para a Cedae duas vezes, e percebemos que começaram a estourar vazamentos em outros lugares. Um vizinho trouxe uma pessoa para resolver, mas não conseguiu. E isso vai abalando a estrutura das casas, pois vaza para dentro do solo — diz a cabeleireira Elisângela Souza, de 48 anos.

Em Duque de Caxias, no Parque Duque, o vazamento é na esquina das ruas Floriano de Godói e Xavier Pinheiro. A auxiliar de governança Jandira Elias dos Santos Marques, de 59 anos, revelou que o vazamento já foi denunciado à Cedae mais de dez vezes.

— Há três meses, teve uma obra de asfalto aqui para tapar buraco. Há um mês, começou o vazamento. Os vizinhos ligaram e reclamaram. A Cedae mandou um carro. Os funcionários olharam e foram embora. Dá pena de ver uma água tão limpa indo embora assim — lamenta Jandira.

Parque São José: vazamento e crateras na pista

Em Belford Roxo, na Avenida Automóvel Clube, no Parque São José, além do vazamento de água, moradores reclamam ainda dos diversos buracos na pista.

— O vazamento já está há quase uma semana lá — revela um morador que, com medo de represálias, prefere não se identificar.

Dos municípios citados, apenas Nova Iguaçu informou dados sobre os vazamentos. De acordo com a administração municipal, há cerca de 60 buracos provocados por vazamentos da Cedae na cidade.

Em nota, a companhia informou que enviaria equipes neste fim de semana aos locais informados nas cidades de Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Em relação a Belford Roxo, a companhia disse que o serviço de reparo está programado para esta semana.

Apesar de ter sido questionada sobre a quantidade de vazamentos de água na Baixada Fluminense este ano, a companhia não informou o número de registros desse tipo de problema na região.

 

Reestatização cresce porque empresa privada tem serviço ruim, diz instituto

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

07/03/2019 04h00

 

As privatizações são uma parte importante da agenda econômica do governo Bolsonaro e também de gestões regionais, como no Rio de Janeiro e em São Paulo. 

Mas, no mundo, está havendo um movimento contrário, de reestatização de serviços de setores importantes, como energia, água e transporte. Quase 900 reestatizações foram feitas em países centrais do capitalismo, como EUA e Alemanha.

“A nossa base de dados mostra que as reestatizações são uma tendência e estão crescendo”, disse a geógrafa Lavinia Steinfort, coordenadora de projetos do TNI (Transnational Institute), centro de estudos em democracia e sustentabilidade baseado na Holanda.

O TNI mapeou serviços privatizados que foram devolvidos ao controle público em todo o mundo entre os anos de 2000 e 2017. São casos de concessões não renovadas, contratos rompidos ou empresas compradas de volta, em sua grande maioria de serviços essenciais como distribuição de água, energia, transporte público e coleta de lixo.

Nas contas da entidade, foram ao menos 835 remunicipalizações (quando os serviços são originalmente da prefeitura) e 49 nacionalizações (ligadas ao governo central), em um total de 884 processos, movidas geralmente por reclamações de preços altos e serviços ruins.

E a tendência é acelerada: mais de 80% dos casos aconteceram de 2009 em diante.

O movimento é especialmente forte na Europa, onde só Alemanha e França já desfizeram 500 concessões e privatizações do gênero. Os episódios, porém, se repetem por todo o mundo e estão espalhados por países tão diversos quanto Canadá, Índia, Estados Unidos, Argentina, Moçambique e Japão.

Todos os casos foram compilados no relatório “Reconquistando os serviços públicos”, e uma parte também pode ser acompanhada pelo “Rastreador de remunicipalizações“, mapa interativo do TNI com as reestatizações do setor de água (ambos em inglês).

Veja dois exemplos de países que reestatizaram serviços:

França – 152 reestatizações

A França foi uma espécie de estopim para os vários processos de reestatização que começaram a se espalhar pela Europa depois que Paris, em 2008, optou por não renovar a concessão dos serviços de água e esgoto da cidade.  Eles eram desde 1985 administrados por duas companhias privadas (a Suez e a Veolia) e passaram para a responsabilidade da Eau de Paris, companhia municipal criada para assumir o negócio e até hoje a responsável pelo tratamento de água da capital francesa.  Um estudo de 2013 da entidade de defesa dos consumidores UFC Que Choisir apontou que, consideradas as cidades francesas com mais de 100 mil habitantes, aquelas com as menores tarifas.

Estados Unidos – 67 reestatizações

Contratos de água e de energia são alguns dos que foram revertidos em cidades espalhadas por estados tão diversos quanto Flórida, Havaí, Minnesota, Texas, Nova York e Indiana. Uma das primeiras a fazer algo do gênero, a cidade de Atlanta cancelou em 2003 a concessão de água feita em 1999.

O contrato era previsto para durar até 2019, mas reclamações de falta de água e má qualidade o interromperam 16 anos antes. À época, a companhia argumentou que se deparou com uma rede bem mais antiga e custosa de se reparar do que o projetado no acordo.  

Na ilha havaiana Kaua, em 2002, foram os moradores que formaram uma cooperativa (a Kauai Island Utility Cooperative) e compraram a companhia de energia da cidade, que estava à venda. A gestão é feita pela cooperativa sem fins lucrativos.